quarta-feira, 21 de março de 2012

MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR


            Os métodos de investigação do consumo alimentar têm sido aperfeiçoados para superar limitações das técnicas empregadas para conhecer o hábito alimentar de indivíduos e grupos. Nos anos 60, período de grandes mudanças sociais aliadas a uma consciência global e doméstica da fome e questões ligadas à saúde, foram conduzidos os primeiros estudos epidemiológicos que investigaram a ligação entre dieta e o aparecimento de doenças. Os vários métodos para conhecimento e avaliação do hábito alimentar diferem entre si quanto à maneira como a informação é coletada, o tempo necessário para a coleta dos dados e o tipo de informação que se procura (FERRO, 2002).
            De forma genérica, é possível subdividir os métodos de investigação do consumo alimentar em dois grupos (MCPHERSON et al., 2000):

a) àqueles utilizados na prática clínica, com interesses individuais e específicos relacionados à quantidade e à qualidade da alimentação, podendo inclusive despender, na maioria dos casos, mais tempo e dinheiro para a sua aplicação;

b) àqueles utilizados em estudos epidemiológicos, que valorizam mais a questão populacional, deixando de lado as particularidades do indivíduo, caso elas não se reflitam na população; nesse caso a praticidade na aplicação do método e o custo são mais valorizados.

            O questionário de frequência alimentar (QFA) é considerado como o mais prático e informativo método de avaliação da ingestão dietética e fundamentalmente importante em estudos epidemiológicos que relacionam a dieta com a ocorrência de doenças crônicas (SAMPSON, 1985; WINLET, 1994).
            Conceitualmente, o método prevê a medição da exposição e sua relação com o tempo, de modo a refletir características de como começa, quando termina e qual a sua distribuição no período de interesse (GIBSON, 1990; ARMSTRONG et al., 1995).
            Hoje, existem variações do QFA em relação ao seu desenho original, como o QFA qualitativo, que visa avaliar os tipos de alimentos consumidos e sua frequência, e o semiquantitativo, que visa, além de avaliar os principais alimentos consumidos, estimar o seu consumo. O QFA, tanto em sua forma original quanto em suas variações, é capaz de avaliar a frequência de consumo alimentar diária, semanal, quinzenal, mensal ou sazonal (FERRO, 2002).
            O recordatório de 24h foi utilizado pela primeira vez por Wiehl e consiste em quantificar todo o consumo de alimentos nas 24 horas anteriores à entrevista ou durante o dia anterior. Por ser um método que descreve uma grande variedade de alimentos, o R24h é utilizado quando se deseja comparar a média da ingestão de nutrientes e a energia de diferentes populações (BUZZARD, 1998).
            Entre as vantagens de utilização desse método incluem-se a rápida aplicação, recordação recente do consumo, a população estudada não precisa ser alfabetizada, além de ser o método que menos propicia alteração no comportamento alimentar (VILLAR, 2001).
            O Registro Alimentar pode ser visto como uma variação do Recordatório 24 horas, cujo objetivo é recolher informações sobre a ingestão atual do indivíduo, porém, diferentemente do recordatório, ao invés de se lembrar dos alimentos que ingeriu e reportar a um entrevistador, o próprio indivíduo ou pessoa responsável anota efetivamente, em formulários próprios, com todos os detalhes, os alimentos e bebidas ingeridos durante todo o dia. Esse Registro pode ser de um, dois ou mais dias, levando-se em conta que se for muito extenso a pessoa logo se sentirá desmotivada. Desta forma, considera-se suficiente utilizar três dias, sendo que pelos menos um dia deve ser dos finais de semana, onde a alimentação geralmente é atípica (RICCO et al., 2000).
            O diário ou Registro Alimentar pode ser aplicado de duas maneiras: na
primeira, utiliza-se uma balança e todos os alimentos devem ser pesados e registrados antes de serem consumidos, na segunda, o participante deverá registrar através de porções de referência ou medidas caseiras a porção consumida. O RA que utiliza a pesagem dos alimentos pode ser considerado um método de avaliação bastante preciso, mas requer treinamento, esforço e muita vontade de colaboração, fatores que fazem com que seja pouco utilizado (Mc PHERSON et al., 2000).   
            Para estimar a prevalência de inadequação da ingestão de nutrientes, é necessário calcular o consumo do grupo populacional de interesse e comparar com o método de referência. A estimativa de referência apropriada para a avaliação da inadequação da ingestão de nutrientes quando se avalia um grupo de pessoas é a EAR, definida como o valor de ingestão do nutriente que corresponde à necessidade média estimada para determinado estágio da vida e gênero (SLATER et al., 2004).

REFERÊNCIAS BOBLIOGRÁFICAS

ARMSTRONG BK, WHITE E, SARACCI R. Principles of exposure measurement in epidemiology. 2nd ed. Oxford: Oxford University Press; 1995.

BUZZARD M. 24-hours dietary recall and food record methods. In: Willett WC. Nutritional Epidemiology. 2nd.ed. Oxford: Oxford University Press; 1998. p.50-73

FERRO-LUZZI A. Individual food intake survey methods. In: Proceedings of International Scientific Symposium on Measurement and Assessment of Food Deprivation and Undernutrition, 2002; Rome, Italy. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations; 2002.       

MCPHERSON RS, HOELSCHER DM, ALEXANDER M, SCANLON KS, SERDULA MK. Dietary assessment methods among school-age children: validity and reliability. Prev Med. 2000; 31:S11-S33   

RICCO, R.G.; CIAMPO, L.A.D.; ALMEIDA, C.A.N. Puericultura, Princípios e
Práticas, Atenção Integral à Saúde da Criança. São Paulo: Ed: Atheneu, p.9-89, 2000.

SAMPSON L. Food frequency questionnaires as a research instrument. Clin Nutr 1985; 4: 171-8.

SLATER B, PHILIPPI ST, FISBERG RM, LATORRE MR. Validation of a semi-quantitative adolescent food frequency questionnaire applied at a public school in Sao Paulo, Brazil. Eur J Clin Nutr 2003; 57(5):629-35.

VILLAR BS. Desenvolvimento e validação de um questionário semi-quantitativo de freqüência alimentar para adolescentes [tese]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2001.      

WILLETT WC. Future directions in the development of food-frequency questionnaires. Am J Clin Nutr 1994; 59 Suppl: 171S-4S.



           


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